Ha alguns dias ja tinha decidido que nao iria mais a escola, ja nao tinha mais paciencia ou animo, ao inves disso passei a trabalhar em tempo integral, aprendia mais com os livros que com Paul e suas aulas escrotas. Quando tinha tempo livre e disposicao gostava de ir ao cinema ou teatro, perdi a conta de quantas vezes fui ver “Rei Leao” e “O Fantasma da Opera” no teatro. Aos poucos voce se acostuma a ser so e a fazer as coisas sozinho, um pouco eu quis assim, o problema que eu sempre acabo me aborrecendo com os outros, lembro deste garoto, Corey, que conheci logo quando cheguei em Londres. Ele nasceu em Londres, mas seu pai era jamaicano. “E por isso que tenho esse cabelo rastafari” dizia ele. No comeco era divertido sair com ele, davamos boas risadas, mas o problema era que ele falava pelos cotovelos e sempre estava perguntando a minha opiniao sobre as coisas. Toda vez que conhecia uma garota ja dizia estar apaixonado, passava alguns dias a mesma historia se repetia. Chegou um momento que comecei a evita-lo e muitas vezes ignora-lo. Com o tempo nos viamos cada vez menos e logo o barbante se rompeu. A partir dai passei a fazer as coisas sozinho, quando alguem tentava se aproximar eu me tornava frio e distante. Acho que e este lugar que faz isso com a gente, aos poucos nos tornamos mais frios e duros que o concreto que edifica essa cidade. Pra falar a verdade eu nao sei onde esta o problema, nao consigo aceitar que a vida e isso ai que vemos todos os dias, me assusta a ideia de sermos tao mesquinhos e levianos. Hoje tudo e compreensivel, tudo e perdoado e tudo e esquecido. Vivemos na era da pseudo-liberdade, nao adimitimos sermos chamados de caretas ou “outfit”, entao banalizamos aquilo que realmente e importante e recriminamos o que e banal. Somos seres egoistas e a cada dia nos empurramos mais e mais nesse teatro de putas alienadas. Sera que ninguem percebe que o que chamam de lucidez e o mais agressivo nivel de loucura? Nesta vida so ha dois caminhos a seguir: no primeiro voce diz amem e termina sendo mais uma marionete, no outro voce se recusa a ver com olhos velhos e termina com uma bala na cabeca.
Quando me levantei na manha de quarta-feira para ir a livraria, pensei porque essas coisas acontecem, em um dia sua vida e um emaranhado de barbantes e relacoes, no outro e um espaco vazio onde o que se ouve e apenas o som dos seus proprios passos. Cheguei perto da janela do meu quarto e fiquei vendo a chuva fina cair na grama do quintal, as arvores ja estavam ficando floridas, logo sera primavera, pensei, mas quanto ainda falta para meu outono acabar? As vezes finjo esquecer que o outono so acaba quando se deixa as folhas cairem. Sai de casa sem tomar cafe, amanheci com o estomago embrulhado, nao sabia bem ao certo porque. Quando cheguei a livraria, a senhora Williams nao parecia estar muito feliz em me ver. Fausto! Quer dizer que agora voce escolhe quando vem trabalhar e quando nao vem? Olhe pra voce, voce esta horrivel! E essa cara? Andou se metendo em brigas? Eu sabia que essa sua lingua um dia iria lhe causar problemas! Cara, aquela mulher nao parava mais de falar, parecia que o sermao nao teria fim, por meia hora tive que escutar ela se queixar da minha aparencia, meu comportamento e minhas atitudes na vida. Senhora Williams, so estou tendo um dia de chuva enquanto todos estao tendo uma tarde de sol. Voce tem muito trabalho a fazer Fausto, espero ver todos os livros catalogados ate o fim da tarde, nao me interessa se faz sol ou chuva no seu mundo. Nem com minha faceta poetica eu quebrava aquela velha.
Quando eram quase seis daquela tarde o telefone da livraria tocou e ja estava sozinho na loja, a senhora Williams havia partido uma hora antes. Quando atendi, uma voz do outro lado perguntava num ingles pobre “Mr Fausto is here”, aquela voz me parecia familiar, quando disse que era eu e indaguei o que ele queria, a voz ficou um pouco mais seria e disse: Filho, esta na hora de voce voltar a casa de seus pais. Era meu tio Carlos. Voce sabe que nao me dou bem com os fascistas. Garoto deixe de bobagem, voce sabe como seu pai e e voce sabe como sua mae sofre com isso tudo. Meu pai e tao covarde que pediu pra voce ligar para mim, por mim ele poderia morrer. Fausto, seu pai esta morrendo, por isso liguei pra voce. A vida e um coracao que se recusa a bater.
Quando me levantei na manha de quarta-feira para ir a livraria, pensei porque essas coisas acontecem, em um dia sua vida e um emaranhado de barbantes e relacoes, no outro e um espaco vazio onde o que se ouve e apenas o som dos seus proprios passos. Cheguei perto da janela do meu quarto e fiquei vendo a chuva fina cair na grama do quintal, as arvores ja estavam ficando floridas, logo sera primavera, pensei, mas quanto ainda falta para meu outono acabar? As vezes finjo esquecer que o outono so acaba quando se deixa as folhas cairem. Sai de casa sem tomar cafe, amanheci com o estomago embrulhado, nao sabia bem ao certo porque. Quando cheguei a livraria, a senhora Williams nao parecia estar muito feliz em me ver. Fausto! Quer dizer que agora voce escolhe quando vem trabalhar e quando nao vem? Olhe pra voce, voce esta horrivel! E essa cara? Andou se metendo em brigas? Eu sabia que essa sua lingua um dia iria lhe causar problemas! Cara, aquela mulher nao parava mais de falar, parecia que o sermao nao teria fim, por meia hora tive que escutar ela se queixar da minha aparencia, meu comportamento e minhas atitudes na vida. Senhora Williams, so estou tendo um dia de chuva enquanto todos estao tendo uma tarde de sol. Voce tem muito trabalho a fazer Fausto, espero ver todos os livros catalogados ate o fim da tarde, nao me interessa se faz sol ou chuva no seu mundo. Nem com minha faceta poetica eu quebrava aquela velha.
Quando eram quase seis daquela tarde o telefone da livraria tocou e ja estava sozinho na loja, a senhora Williams havia partido uma hora antes. Quando atendi, uma voz do outro lado perguntava num ingles pobre “Mr Fausto is here”, aquela voz me parecia familiar, quando disse que era eu e indaguei o que ele queria, a voz ficou um pouco mais seria e disse: Filho, esta na hora de voce voltar a casa de seus pais. Era meu tio Carlos. Voce sabe que nao me dou bem com os fascistas. Garoto deixe de bobagem, voce sabe como seu pai e e voce sabe como sua mae sofre com isso tudo. Meu pai e tao covarde que pediu pra voce ligar para mim, por mim ele poderia morrer. Fausto, seu pai esta morrendo, por isso liguei pra voce. A vida e um coracao que se recusa a bater.